Roleta GG – Review: Ima Soku ni Iru Boku

Ima-Soku-ni-Iru-Boku

“Pois dez bilhões de anos é um tempo tão frágil, tão efêmero… que incita um carinho amargo, quase desolador”.

Então leitor, visto que também estou participando dessa corrente de reviews entre amigos e mesmo não querendo, pois acho essa crítica inútil — independente do que eu falar sobre o anime vocês devem assisti-lo —, evitarei fazer aquela resenha tradicional falando dos aspectos comuns que são analisados numa obra. Focarei no que me interessa e o que mais chamou minha atenção na série em si.

A obra da vez se chama Ima Soku ni Iru Boku, conhecida no ocidente como Now and Then, Here and There (Agora e Antes, Aqui e Lá). O nosso desajeitado e sangue-quente Shu subitamente encontra uma menina misteriosa no alto de uma chaminé admirando o pôr do sol. Ele insiste em fazer contato com ela até que quando ela faz com ele, dizendo o seu nome, Lala Ru, algumas pessoas montadas em máquinas em formato de dragão aparecem de um portal para levá-la de volta ao mundo deles. Shu conclui que Lala Ru estava pedindo sua ajuda e é envolvido em toda a confusão até ser levado ele também para o tal mundo de onde Lala Ru veio. Sem saber do que se trata tudo aquilo e enquanto busca respostas tenta salvar a menina misteriosa, junto com ele vamos descobrindo o que é aquele mundo e quem é Lala Ru.

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A princípio, o que se nota é o contraste que há da atmosfera geral do cenário, melancólica, desde o mundo comum até o mundo desconhecido, entre as crenças e princípios e até mesmo o comportamento infantil, eu diria “shounen”, do protagonista. Logo nos quatro primeiros minutos do episódio vemos a maestria com quem lida com o roteiro demonstra a personalidade do personagem e sumariza-o todo em poucas palavras, como no caso da maneira que ele luta kendo, indo “de acordo com o decorrer da luta”. E apesar de não ser um dos melhores personagens do anime (embora seja o protagonista) ele é a célula terrorista que vai mudando tudo ao redor dele naquele mundo desconhecido, devido aos seus preceitos e senso de justiça trazidos do outro mundo. Um dos personagens que evolui bastante na trama, graças ao envolvimento com o Shu, na verdade, são vários, mas o que teve um bom arco dramático não é outro senão Nabuca.

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Nabuca é o líder de uma pequena tropa do couraçado Hellywood, aparentemente o que antes foi um navio quando aquele mundo ainda tinha água em abundância (falarei disso mais a frente). Vive acompanhado de Boo, um garotinho que, vale ressaltar, é negro. Quando Nabuca e Shu estão na mesma cena o que não falta é um embate de ideias, sempre progredindo de alguma forma para o arco dramático e emocional de ambos os personagens envolvidos. Quanto a isso, aos poucos Nabuca vai se familiarizando com Shu, depois que ele o salva, e vai-se revelando para ele, dizendo o porquê de fazer aquilo tudo, como foi parar ali, o que espera no fim e o que o motiva a continuar. Por meio deste personagem também sabe-se mais a respeito dos outros “soldados”, sendo que muitos têm a história parecida.

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O ponto em que você chega naquele mundo, acompanhado de Shu, é um ponto avançado da história dele. Por isso, muito do que ocorreu no passado e está acontecendo concomitante em outros lugares só é revelado por meio de diálogos e sutilezas das expressões faciais dos personagens, coisa que se o espectador não for atento pode passar por esses detalhes tanto nos diálogos como nas imagens despercebido se não associar as informações. A série chama atenção nesse aspecto por prezar bastante a narrativa por imagens: as expressões de rosto dos personagens dizem muito sobre o que passaram ou o que pensam em dado momento. Geralmente isto ocorre no que chamo de mini-arcos dramáticos, coisas que este anime está infestado com. É evidente o desfecho de cada um deles quando a câmera focaliza e fica parada por mais de três segundos encarando o rosto de algum personagem, fazendo-nos indubitavelmente especular o porquê disso e imaginar o que acontece na mente dele. É proposital. São poucos os animes que possuem uma narrativa pela animação como Ima Soku ni Iru Boku, ou pelo menos, poucos que recorrem a isso como se fosse algo natural, pois seria o certo, visto que se trata de uma mídia animada.

Quem assiste ao anime deve revê-lo para só então apreciar a obra em toda a sua magnitude, pegando e associando as nuances que os produtores deixam ao longo da narrativa para que o espectador discorra rápido e mentalmente sobre eles. Uma linha de diálogo evoca diversas imagens sobre eventos passados daquele mundo, da mesma forma que uma expressão ou gesto de um personagem, além de dedurar a sua personalidade, revela a sua posição atual nele — no que se refere à sua função narrativa-dramática e a mudança psicológica que poderá vir a ter.

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Pode-se dizer que o anime não agradará a todos por tratar de temas pesados por um viés bastante incomum para a visão ocidental de narrativas, mas creio que não seja o caso aqui. A série aborda temas como estupro, guerra, fome, falta d’água, aborto, sacrifício, etc, tudo sendo protagonizado por crianças; você verá uma criança discutindo sobre aborto, outra falando de estupro, outra mais como uma fanática falando de sacrifício e ainda outra matando outra criança por comida. Particularmente penso que o que dá o tom cruel e seco a toda a obra é o fato de ser esses temas pela visão de uma criança, o que se fosse por um adulto, não teria o mesmo impacto. Ligado a isso está o realismo daquele universo, ainda que se trate de uma ficção científica que até parece haver elementos de fantasia, tudo é levado muito a sério, não chega a ser desconstrução de alguma coisa, mas haverá vários momentos que você pensará que o protagonista ou alguém outro morrerá por não ter capacidades verossímeis de se safar de alguma situação. É aí que o roteiro simplista mas eficiente tira onda: eu fiquei bobo do quão simples os conflitos surgem e são solucionados mas ainda conseguem me prender para ver o que acontecerá em seguida. É algo que só quem tem muito domínio da narrativa e quem está fazendo-a consegue alcançar. Hideyuki Kurata, o roteirista da série, com certeza sabia onde queria chegar com cada detalhe posto em cena.

Eu gostaria de poder falar mais sobre a minha personagem preferida, a Sara, a quem tem o melhor arco dramático e mais se transforma ao longo da narrativa, mas tenho que parar aqui pois seria spoiler.

Ima Soku ni Iru Boku é um anime de 13 episódios. Pelo que andei sabendo fez muito sucesso na época em que saiu, ao menos aqui no ocidente, e por muitos é dado como clássico e um anime ímpar entre o que há de anime por aí. Pude comprovar isto com meus próprios olhos, e agora vejo que cedo ou tarde ia parar para vê-lo, pois já o conhecia, e também porque é um daqueles animes que nenhum fã de anime deve deixar de assistir antes de morrer. A obra possui uma pegada cultural, como disse acima, por causa de como aborda seus temas, muito contraditória à cultura ocidental, e me faz pensar que as crianças japonesas que assistem a isso (pois gostando ou não isso é voltado para crianças) possui uma sofisticação ou amadurecimento tão grande com suas visões de mundo que para eles esses tópicos são aceitáveis de se falar sobre — não significando que será apreciado somente por crianças.

Agradeço ao Adra por me recomendar esta joia dos animes.

Ficha Técnica:

Título: Ima, Sokoni Iru Boku (Now and Then, Here and There)
Nº de episódios: 13
Estúdio: AIC (Amagami SS, Mayoi Neko Overrun, Tenchi Muyo)
Ano de Lançamento: 1999
Diretor: Daichi Akitaro (Kamisama Kiss, Fruits Basket, Poyopoyo)
Roteirista: Hideyuki Kurata (Junketsu no Maria, Galilei Donna, The World Only God Knows)
Compositor: Iwasaki Taku (Akame ga Kill, Gatchaman Crowds, Katanagatari)
Character Design: Atsushi Ohizumi; Rie Nishino

Ao que parece o próximo da vez será meu amigo Eru. Como meu camarada Adra sofreu um acidente com o computador, congestionou tudo o que planejamos e não faço ideia de quem e o que recomendaram ao menino Eru. Até quarta que vem!

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Att, Kouma

9 comentários em “Roleta GG – Review: Ima Soku ni Iru Boku

  1. NOssa parece uma obra bastante interessante, os temas abordados são um tanto quanto pesados, depois vou dar uma olhada no anime.

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