Começar de novo

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Cada vida faz o seu destino.

Atenção: o post contem spoilers da segunda temporada de Re:Zero. Recomendo que assistam antes de lerem o post.

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Nem só de bons protagonistas ou de boa escrita narrativa se fazem excelentes histórias. Bons personagens ”secundários” são fundamentais para isso. Em Re:Zero, felizmente, existem vários. Um dos que sempre me intrigou, desde que meus olhos apreensívos com a sucessão de mortes de Subaru no seu primeiro contato com a mansão do Roswaal, foi a Beatrice. A loli da biblioteca mágica. Aquela que sempre permitia que Subaru a encontrasse, mesmo que de maneira inconsciênte. Sempre em busca da sua salvação. ”Daquela pessoa”.

A história dessa personagem é bem triste. Não apenas pelo fato do que ela passou durante alguns de seus anos de vida, mas também pelo fato da sua própria existência, afinal ela é um espírito. Um ser que, aparentemente, vive eternamente e que necessita de ”mestres”, alguém para lhes guiar. Alguém para lhe dar sentido à vida. Mesmo Betty parecendo apenas uma loli tsundere, na verdade ela sempre se mostrou uma personagem cheia de camadas. Por trás do seu comportamente forçadamente (no bom sentido) antissocial, ela sempre demonstrou ser alguém que se importa por aqueles que tinha carinho, sempre se mostrou gentil e disposta a ajudar os outros. Principalmente quando se sentia confortável em se abrir um pouco mais.

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Mas a triste realidade de Beatrice era a de que ela estava presa a uma suposta profecia, a um suposto destino, na espera ”daquela pessoa”. Alguém que viria para lhe ”salvar”, libertá-la da longa espera de poder voltar a viver, de ser livre. Ela esteve por mais de 400 anos presa a isso. Foi algo feito pela Echidna, uma das bruxas. A mesma disse para Subaru que fez isso por puro interesse curioso de como Betty, um espírito, reagiria a este tipo de situação. Ela tinha um livro profético em branco, pobrezinha! Não sei se acredito que esta tenha sido a principal motivação de Echidna. Ela, por sua própria natureza de avareza (ganância), teve, sim, estas intenções meramente de curiosidade. Mas ela é, também, muito mais do que apenas uma avareza em forma de pessoa, como a própria dá a entender em vários momentos. Ela, com certeza, criou a Betty com carinho. Beatrice não era apenas uma mera ferramenta, um brinquedo.

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Qual a prova disso? A pessoa que a Betty é. Alguém que se importa com os outros, que é gentil, que tem compaixão. Porque uma pessoa só pode dar o que tem. E uma pessoa só tem algo, se antes o recebeu de alguém. Os dois servos da bruxa dos primeiros episódios da segunda temporada, que ”apagaram” a Rem e a Crusch. Ou a própria Elsa com aquele passado triste dela que a faz matar pessoas para ver suas tripas. Eles não tem compaixão. Por quê? Porque não lhes deram, quando eles eram jovens.

As crianças/jovens que recebem compaixão, amor, respeito e carinho terão estoques de compaixão, amor, respeito e carinho para dar ao mundo. Os que receberem violência e maldade terão violência e maldade. Não é por acaso que os abusadores em geral foram abusados na infância.

Mas nem todos os que foram abusados se tornam abusadores, nem todos os que sofreram violência se tornam violentos. Às vezes, no meio do caminho, ocorrem intervenções que mudam o destino de uma pessoa. Um herói chega, cheio de amor no peito, e acode no último momento.

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Isso prova que Beatrice recebeu compaixão quando vivia com Echidna, Roswaal e Ryuuzu. Uma pessoa que foi catequisada por qualquer ideologia ou religião perde a flexibilidade de pensamento e, principalmente, de sentimento. Ela está treinada para caçar ameaças em toda parte. Ela procura o motivo ou a desculpa que for. E acha. E isso serve tanto para os servos da bruxa e Elsa, como para Betty e sua eterna espera na biblioteca por ”aquela pessoa”.

Beatrice estava disposta a morrer, pelo medo de abandonar a tal profecia, o tal destino em que era salva e libertada por alguém que viria a seu encontro. Talvez ninguém acabasse vindo. Aliás, era o mais provável. Esse alguém era o Subaru? Não necessariamente. A vida pode parecer cheia de situações convenientes às vezes, mas ela ainda é uma mistura de coincidências imprevisíveis que acabam nos afetando pelo resto de nossas caminhas, sejam essas situações boas ou ruins.

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Um dos principais personagens como detetive da história da literatura se chama Phillip Marlowe. Não existe apenas Sherlock Holmes ou, no lado dos mangás, Kindaichi e os vários Akechis. Talvez o primeiro pensamento que venha às nossas cabeças quando pensamos no autor de um dos principais detetives, Phillip Marlowe, seja de que era um cara destinado a criá-lo. Alguém que dedicou sua vida a isso. Alguém diferente da maioria das pobres pessoas comuns. O criador de Phillip Marlow foi o americano Chandler.

Chandler era um homem atormentado. Tinha problemas em duas áreas fundamentais da vida: bebidas e mulheres. Com bebidas, ele as bebia demais. Com mulheres, ele as tinha de menos. Até os 32 anos, Chandler foi virgem como uma noviça. Foi, digamos, “deflorado” por Cissy, a melhor amiga de sua mãe. Cissy era 18 anos mais velha do que ele, gostava de sair à noite, dançar, beber e namorar. Namoraram por quatro anos, até a mãe de Chandler, que não aceitava o relacionamento, morrer. Aí, casaram-se.

Chandler era feliz no matrimônio, mas continuou bebendo e fazendo coisas de bêbado, pelo que foi demitido do bom emprego que ocupava. Para conseguir algum, começou a escrever histórias de detetive, e então se consagrou. Você só está lendo sobre Chandler agora porque ele perdeu o emprego devido ao alcoolismo. Um mal e uma perda o empurraram para a imortalidade. A vida é mesmo imprevisível.

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E essa vida, tão imprevisível que é, romanticamente ou não, trouxe Subaru para libertar Beatrice. E ele não o fez sozinho. Ela precisou tomar coragem para decidir mudar. Assim como disse anteriormente, Subaru pode não ter sido o profetizado que viria libertar Betty. E isso pouco importa. Aliás, a própria profecia/destino não necessariamente era algo real.

Teria sido melhor se libertar antes? Ter vindo alguém antes para salvá-la? Problema de expectativa de vida não é um mal que Betty enfrenta, afinal ela é um espírito que, ao que tudo indica, vive para sempre. Então teria sido o destino colocando Subaru no seu caminho? O que quero dizer é que talvez os 400 anos de espera, que aparentemente para ela foi perda de tempo, talvez tenha sido o melhor que lhe aconteceu. Quantas vezes lutamos por algo que queríamos muito na nossa vida, mas falhamos. Perdemos. E por conta dessa derrota, fomos parar em outro caminho que, pra nossa surpresa, nos levou a uma grande felicidade e realizações! Depois disso, vamos lá de novo. Surge um projeto, um plano para o futuro. Na hora, pensamos que era exatamente isso que queríamos! Trabalhamos com muito esforço para fazer o projeto dar certo. Agora vai!

Falhamos.

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Por mais que nos esforcemos tanto, perdemos. Então ficamos tristes, angustiados, gritamos, nos reviramos e nos afundamos ainda mais em tristeza.

Nesse momento, lembro dos chineses, que dizem, do alto de seus 5 mil anos de sofrimento: “Às vezes, você não deve agir, não deve decidir, nem pensar; deve apenas deixar que a correnteza do rio o leve para onde ela quiser”.

Sabedoria chinesa. Então é o que faço. Sou levado para onde sou empurrado e, depois de algum tempo, olho para estes meus antigos projetos e digo para mim mesmo: que horror, como eu queria tanto aquilo?!

O que é isso? É o Destino tomando as decisões por mim? A vida, estranha vida? Deus e Seus desígnios inescrutáveis? Ou simplesmente a sorte, o acaso e a coincidência?

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Não, não acredito em Destino. Se houvesse Destino e eu fosse o herói da história, tudo daria certo, mesmo que tomasse decisões erradas. Mas, não. Vez em quando, tomo uma decisão errada e me dou mal. Quando erro, reconheço nem que seja só para mim mesmo, não fico dizendo “não me arrependo de nada”. Erro e me arrependo, sim. Maldição.

Quando acerto e sigo o caminho que queria, posso ter pego o caminho errado. Quando não acerto, pago pelo erro cometido.

É uma sacanagem. Estão de sacanagem comigo. Quem? A vida? O Destino? Deus? A sorte? O acaso? O que eles pretendem com isso? Querem que aprenda algo com meus erros? Para quê? O que vou fazer com toda essa sabedoria? Não sou um chinês. Não dá pra eu aprender com os acertos?

Chega! Quero as coisas que quero! Não quero que a vida me leve, quero levar a vida. Chineses? Seguir a correnteza? Não! Quero subir em uma lancha, ligar o motor e tocar contra a correnteza.

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A vida é uma sucessão de loucuras. Uma bagunça sem fim. Beatrice esperou 400 anos, seguindo a correnteza, seguindo a sabedoria chinesa. E seguiria assim até que acabasse se matando, como no final da temporada com a biblioteca pegando fogo. Ou continuaria a esperar eternamente até ninguém jamais aparecer e o mundo deixar de existir. Destino? Destino uma ova! O personagem que manda o destino para a puta que pariu, Subaru, apareceu e deu o empurrão que faltava para Betty sair dessa loucura que se enfiou. Mas ele não fez isso sozinho, Beatrice também precisou tomar a decisão por conta própria. E conseguiu.

Felizmente, Beatrice cruzou caminhos com Subaru. Umas pessoa que faz o máximo que pode para continuar vivo e para que as coisas deem certo. Se ele estiver fazendo o máximo que puder, se estiver fazendo o ideal, ele está satisfeito. A famosa pergunta ”Por que isso está acontecendo comigo?”, o Subaru supera sempre, algo que Betty não vinha conseguindo. Se você for ver as desgraças que existem no mundo, pessoas completamente inocentes, crianças na Síria perdendo os pais, perdendo membros do corpo, pessoas sendo assassinadas por causa de um tênis ou de um boné… São pessoas completamente inocentes que estão sofrendo muito, muito mais do que a própria Betty ou o Subaru podem sofrer. E garanto que situações muito semelhantes também devem acontecer a todo momento no mundo caótico de Re:Zero. Ao mesmo tempo é normal ver pessoas que tem coisas maravilhosas na vida e às vezes são uns canalhas, gente ruim. É mais ou menos claro para o ser humano que as coisas não acontecem por merecimento. Não é como se ela ou o Subaru merecessem o que lhes acomete.

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Claro que, quando você faz alguma coisa, trabalha para aquilo, vai ter um resultado, mas uma coisa fortuita não acontece com você por merecimento, acontece porque é fortuita. Sempre tem aquela história do cara que não entrou quando cai um avião: “Foi Deus que me tirou desse avião!”. E os outros que morreram? Morreram porque Deus queria que morressem? Era só ele que Deus não queria que morresse? Não é assim que funciona.

Você tem de enfrentar a vida. Tem que entender que são circunstâncias e não fazer com que isso o domine, torne sua vida subalterna a essa condição. Porque senão você não vai viver. A gente não pode ter tudo, né? Nunca se tem tudo. E foi muito bonito ver o Subaru abrir os olhos da Betty para tudo isso no final, quando ela finalmente grita e decide ”escolher” ele, não como ”aquela pessoa”, mas sim como outro alguém que gostava tanto dela a ponto de arriscar sua vida para salvá-la. Para dar uma chance de ela ter uma vida de verdade. Tomar suas próprias decisões. Não depender mais de um livro em branco que deveria dizer o que ela faria durante cada momento da sua vida.

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As coisas ruins e as coisas boas, você pode fazer com que elas cresçam ou diminuam, depende de você. Se você pega uma coisa ruim e a cultiva, um pensamento ruim, uma experiência ruim, se você cultiva aquilo, aquilo vai crescendo dentro de você, e todo o seu ambiente vai ficando ruim. Assim como Beatrice fez durante 400 anos.

Essa coragem para mudar que a Betty teve, considero isso uma grande conquista. Há quem viva uma vida inteira sem descobrir quem de fato é. A verdadeira arte da vida é viver. E não há vida sem sofrer.

Já dizia Albert Einstein, o grande gênio, que não devemos estranhar que as coisas desfavoráveis nunca mudem para nós, se nós não mudamos nossas atitudes.

Temos o ”destino” que merecemos.

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Outra parte incrível dessa história da Betty foi ela deixar pra trás aquela que era basicamente a sua motivação de existência, Echidna. Ela teve que basicamente esquecer partes do seu passado para conseguir seguir em frente. Aceitar que sua amiga, mestra, criadora se foi. Que não estará, para sempre, mais na sua vida.

Aprender a esquecer talvez seja o mais importante da vida, porque a vida é feita de perdas.

Às vezes, é fundamental deixar de lutar, aceitar a derrota e seguir em frente, porque lá adiante tudo será novo e diferente e, decerto, melhor. Em certas ocasiões, a gente tem que desistir. Simplesmente desistir. Porque, depois que a gente desiste, começa a esquecer, e vai esquecendo, vai esquecendo, até que um dia aquilo não faz mais falta e a gente olha e nem quer mais.

Porque é bom esquecer.

Eis a verdade. É bom esquecer.

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E a partir de agora, Betty vai ser livre para tomar as suas próprias decisões de vida. Preencher os vazios do seu coração com o Subaru e todos os seus novos amigos e objetivos para o futuro. A vida é assim, tudo tem seu fim. Quem não está pronto para mudar não está pronto para viver. E, ao mesmo tempo, também não podemos nos esquecer que a vida é cheia de novos começos. E um deles, para a Betty, será com Subaru ao seu lado. Ele talvez seja a página mais linda que o destino escreveu em sua vida. E eu estou bastante ansioso para ver o futuro que a aguarda, agora com sua liberdade, com suas próprias decisões. Quero ver o seu Re:Zero, o seu recomeço. Cada vida faz o seu destino. E agora ela finalmente poderá começar de novo.

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