“Kiraaaaa”, “Athrruuunn”. Naruto e Sasuke não são os únicos que gritam. Há outra rivalidade no espaço.
Yo, minna! Meu nome é Luiz Fernando Teodosio e sou um novo membro do Gekkou Gear. Escreverei resenhas e outras coisas relacionadas aos animes por aqui. Espero que curtam minhas postagens. Sou fã de animes forjado no tempo de Cavaleiros de Zodíaco na Manchete, passando por Dragon Ball Z na Band e outros animes no saudoso Toonami do Cartoon Network. Após um tempo de estagnação, recomecei a ver animes graças a Naruto em 2006 (sou fã dele ainda até hoje, embora a qualidade atual do mangá/anime, bem, deixa pra lá). Meus gêneros preferidos são shonen e seinen. Mas assisto de tudo um pouco quando me sobra tempo.
Minha primeira resenha será sobre um conhecido anime de uma franquia mecha.
Criadores: Hajime Haytate, Yoshiyuki Tomino
Gênero: Mecha, Militar, Romance
Data de exibição: 5 de outubro de 2002 – 27 de setembro de 2003
Nº de episódios: 50
Estúdio: Sunrise
Quando se fala em “Gundam”, muitos lembram o anime Gundam Wing, exibido no saudoso Toonami do Cartoon Nertwork. Os espectadores menos familiarizados com o universo deste anime talvez desconheçam que a série é como um Power Rangers, renova-se a cada temporada com enredo e temática diferentes, mas sem abandonar alguns elementos paradigmáticos que compõem a essência da franquia. Mobile Suit Gundam — como é chamado sem abreviação — estreou no longínquo ano de 1979 e perdura ainda hoje como uma das séries mais populares do gênero mecha — histórias protagonizadas por personagens que pilotam robôs (mobile suits) —, contando com uma variedade de séries para a TV, Ovas, e animações para o cinema. Dentre essas séries, está o Mobile Suit Gundam Seed.
Essa série situa-se na chamada Era Cósmica, um futuro em que o elevado conhecimento genético levou a raça humana a se dividir em pessoas normais, alcunhados de Naturais (Naturals), e pessoas geneticamente modificadas de forma a serem mais fortes, ágeis, inteligentes e imunes às doenças, denominados de Coordenadores (Coordinators). Os Naturais habitam o planeta Terra enquanto que os Coordenadores residem nas colônias espaciais que compõem a nação chamada PLANT. Devido ao legado histórico de desavenças entre Naturais e Coordenadores, as nações da Terra se uniram para formar a Aliança Terrestre, uma força militar para fazer frente à ZAFT, organização militar da PLANT. Há ainda o país de ORB, a única nação terrestre que é neutra, que não discrimina nem Naturais nem Coordenadores, pois ambos convivem no pequeno território do país. ORB só não foi tomada pela Aliança Terrestre ou por ZAFT porque o país detém uma respeitável provisão bélica. E assim como ZAFT possui territórios conquistados no próprio planeta Terra, ORB também possui algumas colônias no espaço.
A situação entre Coordenadores e Naturais se complica quando a Aliança Terrestre lança um ataque nuclear à colônia de Junius Seven. Em réplica a essa tragédia, a ZAFT envia dispositivos chamados de “nêutron jamers” à superfície da Terra, que inibem a energia nuclear no planeta, gerando assim uma crise de energia no mundo e a impossibilidade do uso de armas nucleares. A discórdia entre as duas nações aumenta e a sensação de uma nova guerra parece cada vez mais real, ainda mais com a atuação de um grupo ativista, dentro da Aliança Terrestre, chamado Blue Cosmos cuja ideologia radicalista é a visão de que os Coordenadores são aberrações da natureza e que devem ser extintos.
Todos esses eventos já ocorreram até o início da história. O anime começa quando a ZAFT, ao descobrir que a colônia de Heliópolis, pertencente à ORB, estava secretamente fabricando novos modelos de mobiles suits para a Aliança Terrestre, ataca essa mesma colônia com o fim de capturá-los. Esses novos modelos são os Gundams. Os cinco pilotos da ZAFT na operação, pertencentes ao esquadrão Le Creuseut, que será o grupo antagonista da série, roubam os Gundams. Mas um dos pilotos acaba morrendo no confronto, e um modelo deixa de ser tomado, o Gundam Strike, que no meio da batalha acaba sendo pilotado por Kira Yamato, um jovem Coordenador que estudava computação científica em Heliópolis e o protagonista da história. Porém, pouco antes de entrar no Gundam, Kira reencontra seu amigo de infância, Athrun Zala, também filho do futuro presidente da PLANTA e piloto do esquadrão Le Creuseut. Os dois são afastados no calor da batalha, mas como Kira e seus amigos de escola sobrevivem e sobem à bordo da Archangel, um novo modelo de nave militar, que também é um dos alvos da ZAFT, os amigos acabam se enfrentando, Kira usando o Strike, e Athrun, o Aegis, um dos Gundams roubados.
A amizade é um sentimento bastante explorado nos animes e mangás, um dos recursos mais populares numa história para uma sociedade que preza o coletivo. A relação entre Kira e Athrun é certamente uma das mais cativantes da franquia Gundam, e ela sustenta a maior parte do clímax da série. Amigos obrigados a lutar como inimigos.
Na primeira parte da história, que se passa inicialmente em Heliópolis e depois no espaço, a nave Archangel está fugindo da nave do esquadrão Le Creuset. Athrun luta pela ZAFT, e Kira, na condição de um civil transformado em soldado, somente está defendendo a Archangel onde seus amigos estão. Para complicar a situação, a noiva de Athrun, Lacus Clyne, vagando no espaço numa pequena nave salva-vidas é resgatada pela Archangel, e acaba tendo um relacionamento sutilmente afetuoso por Kira. Então será um triângulo amoroso? Não. Na segunda parte da história, Cagali Athha, a jovem filha do presidente de ORB, se depara com a Archangel quando ela chega à Terra e mantém uma relação “complicada” com Kira. Um quarteto amoroso, então? De novo, não. Uma colega de Kira à bordo da Archangel, Flay Allster, “se apaixona” por Kira para que ele a proteja das forças de ZAFT, mesmo ela tendo ódio pelos Coordenadores (e Kira não deixa de ser um) e simpatizante com a causa do Blue Cosmos. Um quinteto amoroso, então? NÃO! Flay está noiva de Say Argyle, um dos colegas de Kira também à bordo da Archangel, e não sente remorso algum em traí-lo. Ou seja, Gundam Seed também se sobressai pelos conflitos amorosos dos personagens, embora na prática eles não sejam tão intensos assim (exceto em algumas ocasiões).
Os personagens femininos ganham destaque na história. Lacus Clyne é uma jovem bonita pertencente a uma família importante e uma cantora idolatrada em PLANT. Sua influência sobre a massa é visível, mas apesar da voz delicada, possui forte personalidade que será testada ao extremo nos últimos episódios do anime. Já Cagali Athha não tem um pingo de delicadeza, faz o tipo de filha rebelde e gosta de atuar nos campos de batalha, embora cometa alguns atos amadores. A capitã da Archangel, Murrue Ramius, também possui determinação e acuidade em suas decisões, qualidade que permite à nave sobreviver por inúmeras batalhas, sempre contando com o apoio de Kira e do oficial Mu La Flaga, a quem ela acaba se apaixonando. Por último, Natarle Badgiruel, a tenente que auxilia a capitã da Archangel, de personalidade meio fria e machona, que ganha uma importância decisiva na segunda metade do enredo. Enfim, Gundam Seed possui personagens e elementos para agradar também o público feminino — até as explosões que ocorrem no espaço são rosas —, mas o contexto bélico, as cenas de ação e a trama empolgante acabam por atrair também o público masculino, afinal, Gundam encaixa-se normalmente como um anime seinen.
A respeito do protagonista Kira Yamato, embora tenha incríveis habilidades provadas enquanto pilota o Gundam Strike, possui uma personalidade instável devido às circunstâncias em que se encontra. Ele é um Coordenador de uma nação neutra protegendo uma nave da Aliança Terrestre contra o esquadrão de ZAFT em que está seu melhor amigo. Além disso, por não querer se envolver nas batalhas, não deseja matar ninguém, mas é forçado a lutar para proteger seus amigos e os residentes da nave; transformando-se, dessa forma, de um civil para um soldado. Em vários momentos, Kira sente remorso por matar e por não conseguir impedir que as pessoas que ele deveria proteger fossem assassinadas, o que resulta num personagem completamente perdido psicologicamente. Para equilibrar o protagonista nas batalhas, a presença de Mu La Flaga como auxiliar no combate e como conselheiro é necessária para manter o personagem na linha. Por essas razões, Kira é ao mesmo um tempo um personagem forte, tendo em vista que consegue lidar com mais de dois inimigos Gundams ao mesmo tempo, e fraco por sua conduta hesitante nos eventos. E para realçar a imagem do personagem, ele possui um robô de estimação chamado Tori, um pássaro verde e amarelo recebido de Athrun como presente.
De forma não muito precisa, a história conta com quatro arcos que correspondem às quatro temporadas do anime — considerando “temporada” aqui como o conjunto de episódios que recebem uma mesma abertura, ou seja, uma mudança de abertura equivale a uma nova temporada. O primeiro arco da história foca na perseguição sobre a Archangel pelas forças de ZAFT ocorrida inteiramente no espaço. A perseguição continua no segundo arco da história, que se passa agora na Terra. As duas primeiras temporadas apresentam um desenvolvimento plano e regular, sem reviravoltas efetivas para o universo da história, uma vez que se trata do confronto entre duas nações, e as ações apresentadas na primeira metade do anime contribuem apenas para o desenvolvimento de alguns personagens situados em núcleos específicos. É apenas a partir da terceira temporada que o anime começa realmente a se destacar, saindo de avaliação mediana ou até abaixo do esperado para se tornar uma trama acima da média e recheado de reviravoltas que, aproveitando-se dos pequenos avanços nos dois primeiros arcos, instigam e impressionam o espectador. A relação entre os personagens torna-se mais estreita e algumas mortes forçam os personagens a executarem ações mais radicais capazes de alavancar a trama. Além do mais, surgem outros núcleos de personagens e a dimensão da história amplia-se de tal forma que podemos finalmente ter uma ideia do contexto bélico no universo de Gundam Seed. No entanto, a aparição de novos antagonistas na segunda metade do anime parece forçada, já que nenhum deles é mencionado anteriormente, sem levar em conta que a personalidade deles é praticamente débil. A única explicação para isso é que tais personagens possuem exclusivamente a função de testar apenas com a força (eles pilotam móbiles suits) a sincronia entre Kira e Athrun, que antes oponentes um do outro, devem unir forças para derrotá-lo.
Vale salientar que o nome dos Gundams guardam uma relação com a personalidade de seus pilotos. Freedom, por exemplo, remete ao desejo de Kira de libertar a humanidade desse vício bélico eterno, sua ânsia pela resposta para sua pergunta “contra quem devemos lutar?”. Já o Justice de Athrun alude ao seu forte senso de justiça.
No quesito animação, infelizmente, Gundam Seed deixa a desejar. Como um anime produzido em 2002 esperava-se um resultado muito maior nas cenas de batalha, que apresentam um excessivo uso de repetições. As lutas são mostradas de maneira um pouco fragmentada, quase sem nenhuma linearidade, e o foco das cenas quase sempre no cockpit do piloto ou nos mobiles suits atirando. Mas se a animação não possui um padrão aceitável, a trilha sonora compensa e até chega a maquiar parcialmente os desgostos causados pela baixa qualidade da animação. Gundam Seed é aquele anime cuja trilha sonora ficará gravada na sua mente depois de assisti-lo. Alguns temas são recorrentes ao longo da série, tocados em momentos apropriados e facilitando a caracterização do anime. Não apenas as músicas de fundo, mas as das aberturas e encerramentos, voltadas para um ritmo mais pop e dramático, conseguem cativar. Vale destacar que algumas batalhas recebem músicas cantadas como fundo. Além disso, a personagem Lacus Clyne é uma cantora na história e sua voz marca presença em alguns momentos, até mesmo durante as crises de guerra, e que talvez sejam as cenas mais impressionantes da série.
No mais, é um anime recomendado para quem curte o gênero e aprecia todas as qualidades supracitadas. Ele inclusive ganhou o prêmio de melhor anime de 2002 no Anime Grand Prix, um respeitado prêmio de animação japonesa.
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Por, Luiz Jaeger
Os fãs de Gundam Wing que me perdoem, mas eu achei Seed o melhor da franquia.^^
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Parabéns pela matéria, nossa a riqueza de detalhes do seu trabalho mostra que você realmente conhece o anime a qual se propôs a fazer uma Resenha.
Adorei o seu artigo e aguardo ansiosamente pelo próximo.
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Obrigado, Vagner. Eu assisti esse anime 3 vezes de tanto que gostei dele. Soube que lançaram uma versão remasterizada em Blu-ray, mas acho que o fansub responsável ainda não traduziu todos os episódios.
Eu não posso dizer muito do Wing, pois vi apenas 3/4 do anime. Terei de revê-lo do início qualquer dia desses para comparar. Mas independentemente da relação com outros animes da franquia, Gundam Seed é um ótimo anime.
Em breve trarei mais postagens o/
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